terça-feira, 19 de agosto de 2008

O menino de rua sem rua

Hoje vi o menino de rua da rua da amiga da minha bruxinha. Estava com um amigo. Estava feliz. Ria e conversava. Era uma criança linda e feliz como as outras. Baloiçava no baloiço do restaurante onde eu almoçava. Esquecido da vida, esquecido da rua. E com a felicidade dele eu me admirava. Me admirava que o menino da rua também sabia ser menino, ser feliz, conversar e baloiçar. Me admirava porque eu do menino da rua só tinha visto olhos velhos e sabidos e choro nos lábios, sorriso cansado. Eu não sabia que os meninos de rua sabiam ser meninos só, sem rua.

Mas veio o senhor do restaurante e olhou para os meninos com olhos desaprovadores e duros. Deu dois passos na sua direcção, e sem palavras o menino e o amigo do menino levantaram-se. Primeiro com susto de meninos nos olhos. Depois os olhos voltaram a ser velhos e sabidos como sempre. O menino deixou de ser menino só. Passou a ser de novo a menino de rua. E lá saiu para a sua. Sem sorriso, sem felicidade, sem conversa. Com os olhos de quem sabe que o menino de rua não pode ser menino, só pode ser da rua.

1 comentário:

Nyabetse, Tatinguwaku disse...

Quem me dera descrever um riso, e deixar uma estrelinha... Mas o menino de rua, com a sua essencia de rua, não é aceite. Escrever que riso quando penso neste cúmulo da discriminação?

Mas sabem, menino de rua pode ser qualquer. A vida dá voltas, num mundo egoista e ingrato...

E o menino de rua, que é apenas um menino...